A ausência da consciência de classe deflagrada pelo anti-petismo

Para alguns a representação da esperança, para outros a materialização da corrupção: a defesa e o ataque ao Partido dos Trabalhadores - que esteve no poder no período 2003-2016 - se polarizam como "céu e inferno", não podendo existir um "purgatório". A ojeriza fomentada pelos escândalos de corrupção do partido pulverizados na mídia desde o início da década criaram um ambiente hostil, principalmente após a reeleição de Dilma Rousseff em 2014, propício para que a oposição se beneficiasse de erros factuais cometidos pela dirigência do partido.

Contudo, a ausência de autocrítica, conhecimento e consciência de classe destruíram a possibilidade de avanço em todos os cenários da realidade brasileira. Os polos se criaram: em defesa do Partido dos Trabalhadores e em ataque ao Partido dos Trabalhadores. Certamente, tendo em base as últimas eleições presidenciais, cerca de 20% do eleitorado buscou outras alternativas a não ser o próprio PT ou a quem encarnava o ódio ao partido - contudo uma parcela ainda muito inferior a realidade imposta pela polarização proclamada pelo anti-petismo.

Falas recorrentes como "O Império do PT", "A Institucionalização da Corrupção PT" e afins foram friamente ditas - resultado da ausência de análise e desconhecimento da realidade. A polarização afundou o Brasil e isto é de fácil percepção, tendo os motivos aqui elencados sendo cruciais para a fomentação desta.

Antes de mais nada, gostaria de atentar ao nome do partido em questão: Partido dos Trabalhadores. Nas ciências humanas, sabemos que por vezes as nomenclaturas pouco refletem a realidade processual - ainda mais em um país como o Brasil - contudo isto é um exemplo válido a ser analisado. Não aqui poderíamos dizer que o ódio maciço e desenfreado ao PT não despingaria na classe trabalhadora?

Os motivos de ódio ao partido não são unicamente ligados aos casos de corrupção: O PT é uma anomalia na história da política do Brasil, foi o único partido de viés popular que ascendeu ao poder. A corrupção institucional - e social - é endêmica no Brasil: se esta fosse a real causa central da vontade popular de retirar este partido do poder, diversos outros - e inclusive os vencedores do pleito - não deveriam ali estar. Temos de entender algo que não depende de opiniões: O Partido dos Trabalhadores não é a causa da corrupção política no Brasil, este é apenas mais um partido que como outros - e muito menos que outros - acabou por cometer o que não deveria ter feito com o dinheiro público.

Porém, como o brasileiro optou por declarar guerra unilateral ao PT? Por dois motivos aqui já mencionados: a ignorância sobre a realidade e a ausência da consciência de classe. Com origens marxistas, o conceito de consciência de classe aqui se remete ao saber se posicionar dentre a hierarquia social posta - um análise sociológica em primazia. Como bem diria Jessé Souza, o brasileiro não sabe onde está, tem ilusão de ser mais do que é: a classe média se diz alta e a classe baixa se diz média, colaborando assim para que o 1% da população brasileira que compõe as elites dirigentes continue sua sobreposição. Enquanto as classes inferiores "batem cabeça entre si", quem está acima se perpetua. Lembrem-se bem, mesmo datada de séculos atrás, burguês é quem detêm os meios de produção, não quem precisa vender seu trabalho para sobreviver, relembrando Marx.

A guerra única e abrupta contra a figura do Partido dos Trabalhadores mostra os interesses do núcleo duro das elites dirigentes do país: as lutas entres as elites para se preponderarem é o que se reflete na população inconsciente de si. Com tal consciência e determinado conhecimento da realidade, o brasileiro veria o óbvio a sua frente e iniciaria uma cruzada contra algo muito mais concreto do que a abstração que costumamos chamar de "corrupção".

A herança escravista do Brasil é algo que precisa ser seriamente discutido nos próximos anos, as chagas deste período são evidentes de toda e qualquer forma possível em nosso meio. O comportamento das elites dirigentes pouco tem com "Espírito do Capitalismo" de Max Weber, mas sim com um tradicionalismo automático que se dedica inteiramente a manter seus meios coercitivos em ação em prol da manutenção de sua dominação social. Tais elites - por mais que tal termo também possa ser encarado como subjetivo - visam manter sua estrutura dominativa e não simplesmente a alargar por si mesmos, mas sim consolidar sua liderança social através de políticas estabilizantes que não permitam a consciência de classe e uma possível quebra de sua hegemonia. 

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